Potenciais impactos da água dura na saúde

A relação entre a dureza da água potável e a saúde humana tem sido objeto de estudo e debate ao longo das últimas décadas. A dureza da água refere-se à concentração de minerais, como cálcio e magnésio, presentes na água. Várias investigações epidemiológicas têm examinado a possível ligação entre a dureza da água e uma variedade de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, atraso no crescimento, insuficiência reprodutiva e outros.

Estudos têm sugerido que o consumo de água com maior dureza, rica em cálcio e magnésio, pode estar associado a um menor risco de doenças cardiovasculares. O cálcio e o magnésio presentes na água podem desempenhar um papel na redução da pressão arterial e na proteção do sistema cardiovascular. Além disso, a acidez da água pode influenciar a reabsorção de cálcio e magnésio nos rins, afetando os níveis desses minerais no organismo.

No entanto, é importante notar que os efeitos da dureza da água na saúde podem variar dependendo de diversos fatores, incluindo a dieta geral, o estilo de vida e outros fatores ambientais. Além disso, outros constituintes da água, além de cálcio e magnésio, também podem ter efeitos sobre a saúde humana, e mais pesquisas são necessárias para compreender completamente essas relações.

Não nos podemos esquecer que na água potável também existem outras substâncias que podem ter impacto no consumo.

O consumo da água

A água é essencial para a hidratação e, portanto, para a vida. É também muito importante na preparação dos alimentos e cozinhados, saneamento e higiene, e em muitos outros usos. O abastecimento de água potável tem como objetivo principal proteger a saúde humana, incluindo garantir o acesso a quantidades adequadas de água potável.

Estima-se que aproximadamente 17% da população mundial utiliza água de fontes remotas e desprotegidas, 32% de alguma forma de fonte protegida e 51% de algum tipo de sistema centralizado (canalizado) para a residência ou habitação.

Destes últimos, uma pequena mas crescente percentagem usa alguma forma de tratamento da água dentro de casa. O consumo individual de água ocorre tanto em casa como noutros locais, como escolas e locais de trabalho. A água potável é consumida não apenas como água em si, mas também em bebidas e incorporada em alimentos. Em resposta à crescente escassez de água global e local, há um uso crescente de fontes como água recuperada/reciclada, água pluvial captada e água dessalinizada.

Destaca-se que 884 milhões de pessoas não têm acesso a abastecimento de água potável; aproximadamente uma em cada oito pessoas. Entre eles, uma boa percentagem consome água dura (com calcário), que é considerada um factor etiológico significativo em todo o mundo, causando muitas doenças como problemas cardiovasculares, diabetes, falhas reprodutivas, doenças neurais, disfunções renais entre outros problemas.

A água dura é geralmente definida como água que contém uma alta concentração de íons cálcio e magnésio. Contudo, a dureza pode ser causada por vários outros metais dissolvidos.

A dureza da água pode ser dividida em dois tipos principais: dureza do carbonato e dureza não carbonatada. A dureza do carbonato ocorre quando metais se combinam com alcalinidade na água, incluindo compostos como carbonato, bicarbonato, hidróxido e, às vezes, borato, silicato e fosfato. Por outro lado, a dureza não carbonatada ocorre quando os metais se combinam com outras substâncias na água que não sejam alcalinidade.

A dureza do carbonato é por vezes referida como dureza temporária, pois pode ser removida fervendo a água. Por outro lado, a dureza não carbonatada, também conhecida como dureza permanente, não pode ser eliminada por fervura.

A dureza total da água inclui tanto a dureza temporária quanto a permanente, causada pelos íons de cálcio e magnésio. Com base nessa dureza total, a água é classificada como macia, dura ou muito dura. A proporção de cálcio e magnésio na água é um fator importante que determina a dureza e pode contribuir para vários problemas de saúde associados à água dura.

A dureza da água geralmente surge quando a água circula através de minerais contendo cálcio ou magnésio, como calcário e dolomita. Por esse motivo, as águas subterrâneas tendem a ter uma dureza maior do que as águas superficiais, já que têm maior contato com esses minerais.

Potenciais efeitos para a saúde de água dura ou calcária

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a água dura não é conhecida por ter efeitos adversos para a saúde. Pelo contrário, a água dura, especialmente quando é muito dura, pode contribuir de forma significativa para a ingestão total de cálcio e magnésio, nutrientes essenciais para o organismo.

Os efeitos da água dura na saúde são principalmente atribuídos aos sais dissolvidos nela, especialmente cálcio e magnésio. Embora o cálcio possa interagir com outros minerais no intestino, como ferro, zinco, magnésio e fósforo, reduzindo sua absorção, a regulação intestinal controla efetivamente a absorção excessiva de cálcio.

Por outro lado, a hipermagnesemia, ou excesso de magnésio no sangue, geralmente ocorre devido a problemas renais que diminuem a capacidade de excretar magnésio. Um aumento na ingestão de sais de magnésio pode afetar os hábitos intestinais, levando a episódios de diarreia. Em certos casos, a presença de altas concentrações de magnésio e sulfato na água potável pode ter um efeito laxante.

É importante notar que os efeitos laxantes também foram associados ao consumo excessivo de magnésio na forma de suplementos, mas não à ingestão de magnésio através da dieta. Assim, embora a água dura possa ter alguns efeitos fisiológicos, em geral, é considerada segura para consumo humano e pode até fornecer benefícios adicionais de cálcio e magnésio para a saúde.

Conclusões

A presença de minerais na água potável desempenha um papel fundamental não apenas na aceitação estética, mas também em considerações operacionais relacionadas à qualidade da água. Embora algumas pesquisas epidemiológicas tenham sugerido uma possível ligação entre o magnésio ou a dureza da água e a redução da mortalidade cardiovascular, a comunidade científica ainda está debatendo essas evidências, e uma relação causal definitiva ainda não foi estabelecida. Portanto, mais estudos estão em desenvolvimento para aprofundar o conhecimento sobre esse assunto.

Apesar das incertezas, a água potável pode representar uma fonte significativa de cálcio e magnésio na dieta, o que é especialmente importante para indivíduos com baixa ingestão desses minerais. Quando há mudanças no fornecimento de água potável, seja através de tratamentos ou da introdução de novas fontes, é crucial considerar a adição de sais de cálcio e magnésio para manter um equilíbrio mineral semelhante ao da água original.

É essencial que os consumidores sejam informados sobre a composição mineral de sua água, principalmente quando ocorrem alterações no fornecimento. Isso permite que as pessoas compreendam melhor a qualidade da água que consomem e possam fazer escolhas informadas sobre sua ingestão. Além disso, ao explorar novas fontes de água potável, como a água do mar ou a água salobra, é importante considerar como isso afetará a contribuição de minerais para a nutrição mineral geral da população.

Atualmente, não há dados suficientes para estabelecer valores de referência específicos para concentrações mínimas ou máximas de minerais na água potável. Portanto, é necessário continuar a pesquisa nessa área para desenvolver diretrizes mais precisas e informadas sobre os padrões de qualidade da água.

Embora não esteja documentado que a dureza da água por si só seja diretamente nociva para a saúde, verifica-se que esta poderá ter impactos e consequências negativas por exemplo: no contacto com certos tipos de problemas de pele como o eczema, podendo também aumentar o risco de dermatite atópica, entre outros potenciais problemas.

Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3775162/

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